terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Post Especial: Tudo Em "Família"


Spinnerette, Them Crooked Vultures, Nosfell: Os três álbuns são homônimos, foram lançados no mesmo ano (2009), contam com a participação de Alain Johannes e tem outras coisas em comum. Descubra-as!


Quando o Distillers (foto ao lado) acabou oficialmente em 2006, os fãs de Brody Dalle ficaram com a pergunta “E agora?!” durante algum tempo sem ser respondida. E o “medo” de que Brody realmente fosse se afastar de vez da música – ela chegou a cogitar aposentadoria, para se dedicar à família – crescia.

Então, em 2007, Dalle anunciou o seu novo (super)grupo, Spinnerette, que tem influências de Pailhead, Gunclub, Roky Erickson, My Bloody Valentine e Black Flag e que conta com dois line ups: um para estúdio e outro para shows.
O que chama mais atenção é o de estúdio, que é composto por - além de Brody Dalle, logicamente - Tony Bevilacqua (ex Distillers), Alain Johannes (ex What Is This?, ex Walk The Moon, Eleven, produtor, técnico de som, músico de apoio nas turnês de algumas bandas como Them Crooked Vultures, Queens of the Stone Age) e Jack Irons (ex What Is This?, ex Red Hot Chili Peppers, ex Walk The Moon, ex Pearl Jam, Eleven).

De todo modo, Brody disse que esse é um projeto dela: “Spinnerette não é uma banda. Sou eu e uns músicos com os quais eu quero trabalhar no momento.

No mesmo ano em que foi anunciada a sua estréia, a Spinnerette lançou uma faixa instrumental, “Case of the Swirls” - que foi escrita em um piano elétrico e transcrita para a guitarra por Johannes - e no começo de janeiro de 2008, uma mash up (com um pouco menos de um minuto de duração) - com todo o material até então que entraria para o EP e CD - apareceu no site e no myspace oficial da banda.

Mas isso não era suficiente para os fãs e o “gostinho de quero mais”, ainda continuava...

Então, no dia 8 de agosto de 2008 (“porque oito é o número da renovação”, como Brody explicou uma vez), foi anunciado no blog do myspace que os fãs agora poderiam ouvir uma canção inteira, através do site da banda. Essa música, que faria parte do EP, foi “Valium Knights”.

Também em agosto, Dalle participou do concerto-tributo à Natasha Shneider (Natasha Shneider Benefit Concert), onde apresentou pela primeira vez "Driving Song", junto com Queens of the Stone Age, banda liderada pelo seu marido, Josh Homme.

No dia 11 de dezembro de 2008, através do site oficial, a Spinnerette lançou um EP virtual, intitulado “Ghetto Love”, com as musicas: “Ghetto Love”, “Distorting a Code”, “Valium Knights” e “Bury My Heart”, tendo ainda adicionado “ao pacote”, um vídeo de “Ghetto Love” dirigido (pelo incrível e amigo da família Homme) Liam Lynch.




Depois de meses e meses de espera e alguns shows, o álbum completo, “Spinnerette” (gravado no estúdio de Brody Dalle e Josh Homme, o Pink Duck e com produção, engenharia e mixagem sob os cuidados de Alain Johannes - na foto) foi lançado em de junho de 2009.

O CD, que segundo Ms. Dalle, foi inspirado pelo nascimento de sua filha e pela morte do seu pai, contém duas faixas do EP “Ghetto Love” e mais onze inéditas.
Nele, Brody Dalle prova que é mais do que uma punk rock girl e que de fato sabe fazer música e sabe – mais do que tudo – usar e abusar da sua voz. Ele mostra também uma Brody mais madura e mais à vontade para tocar outros instrumentos (além de algumas guitarras, Brody também gravou alguns baixos, teclado e piano elétrico).

[Tenho que confessar que quando escutei o CD pela primeira vez, não consegui entendê-lo e levá-lo muito a sério. Melodicamente, ouvi muita influência de Eagles of Death Metal e Queens of the Stone Age (mais precisamente o CD "Lullabies to Paralyze", de 2005). Já na parte das letras – que Brody divide com Alain Johannes e esporadicamente, Tony Bevilacqua – consegui literalmente saber qual parte foi a que ela escreveu e qual parte foi a escrita por Alain. A primeira audição foi um tanto quanto estranha pra mim. Mas eu sabia que isso era só uma impressão e que nem sempre, a primeira é a que fica...]

Spinnerette


A faixa que foi escolhida para ser o primeiro single e a primeira música do CD, "Ghetto Love" - que também está no EP - mostra o encontro das águas do punk rock com o rock pop alternativo, visto em várias faixas da Spinnerette.
A melodia, que foi criada por Johannes e Dalle, contém apenas dois acordes e um baixo bem elaborado tocado por Brody.
"Ghetto Love", ao mesmo tempo em que é dançante, consegue ser agressiva.

"All Babes Are Wolves" é a mais empolgante do CD. Chega até a lembrar uma versão mais pop de "Coral Fang" com "Dismatle Me" (ambas do último CD dos Distillers). Também tem um dos baixos mais legais de todo o CD.

"Cupid" é uma excelente música. Com Jon Theodore (The Mars Volta) na bateria, a música ganha um brilho a mais e Brody Dalle prova que sua voz grave e rouca, também consegue alcançar tons agudos.

A inspiração de "Geeking" veio de uma canção de ninar que Dalle cantarolava para Camille, sua filha.
A música tem uma pegada bem “pop rock californiana” e não posso negar que a princípio, me lembrou alguma popzinha do Lenny Kravitz (sorry, Brody). Porém, ao decorrer, a música prova que tem sim potencial.

O segundo single da banda arrancou elogios da crítica e inclusive de David Letterman, quando a banda se apresentou no seu programa, em 2009. Com uma batida bem marcada nos versos (lembrando “pessoas marchando”), refrão dançante e “chiclete”, "Baptized By Fire" é, sem dúvida, uma das mais pops do álbum. (Particularmente, gostei muito da versão acústica também. Assista ao vídeo da versão acústica e ao vídeo da elogiada apresentação no Late Show With David Letterman, a seguir:)





"A Spectral Suspension" é uma das minhas favoritas, sem dúvida alguma. Os vocais da Brody – usados com sutileza nos versos e agressividade no refrão – acompanhando os acordes, tornam essa música a mais
"tensa" do CD. Só ouvindo para entender.

Sinceramente não entendi o motivo de
"Distorting a Code" ter entrado para o CD (talvez por ser a faixa favorita da Brody Dalle ou porque ela toca teclado e piano elétrico na música). "Distorting a Code" também estava presente no EP, porém, eu acho que as outras duas que ficaram de fora, "Valium Knights" e "Bury My Heart" são infinitamente melhores.
Portanto, de todas as músicas do CD, essa é a única que realmente não me encanta. Mesmo assim, há algo para ser destacado: A parte onde a letra é cantada invertida, fazendo jus ao título da música.

"Sex Bomb" é uma música que me deixa um pouco constrangida. Digo, ela é boa para dançar, é animada, mas me dá vergonha alheia por causa da letra e aqueles vocais que parecem até ter sido gravados pelo Mario Bros, me dão dor de cabeça e são engraçadíssimos. Se você for escutá-la com o intuito puro de se divertir, sem se ligar na letra e nesses "vocais bizonhos", ela funciona legal.

Nitidamente conseguimos captar que "Driving Song" (Dalle/Johannes), foi composta em homenagem às grandes perdas nas respectivas vidas de ambos: O falecimento de Peter Pucilowski (padrasto e "verdadeiro" pai de Brody) e Natasha Shneider (parceira de Alain). E mais uma vez ouvimos Brody tocando baixo, muito bem criado por sinal. Não há outras definições para essa música além de linda e emocionante.

Com uma letra debochada e escrachada,
"Rebellious Palpitations" prova que não é só mais uma música dançante encontrada no álbum e que é sim, a faixa mais divertida do CD.

Com basicamente os mesmos acordes de
"Sex Bomb" (durante os versos) e também com um apelo pop, "The Walking Dead" mesmo assim se mostra uma canção totalmente diferente da primeira citada aqui. Ela tem uma das mais belas performances de Brody Dalle nos vocais, que eu já ouvi. A doçura das guitarras rítmicas e solo mais o riff que Tony Bevilacqua faz nos refrões, tornam essa música muito sexy, charmosa e encantadora, do jeito que realmente Spinnerette é definida, segundo Brody Dalle.

"Impaler" (que foi inspirada em Vlad, o Empalador), é uma das músicas que nos faz lembrar de alguns projetos do Josh Homme, que inclusive, participa da música, tocando cig-fiddle (uma espécie de violino, feito com caixa de cigarro). A música é bem repetitiva, mas era essa mesmo a ideia inicial. Parecer com algo tipo um amontoado de chaves, como a própria Brody contou.

Com uma belíssima melodia, ritmo extasiante e letra contendo as seguintes frases "I am the ball, you are the chain. Together we are connected as one", "I do believe hell is on Earth" e "The devil's dance with God", "A Presciption For Mankind" (provavelmente a minha favorita), última faixa do CD e a primeira a ser gravada, é uma das mais interessantes e também é a mais intensa de todo o álbum.
Brody Dalle achou a combinação perfeita de vocais e acordes, sempre deixando exposto o contraste de calmaria com agressividade, fazendo com que toda a emoção da música e o seu sentimento na hora da gravação, pudessem realmente ser notados.
E quando você pensa que a música termina, ainda há mais para o final, onde Brody faz vocalizações dignas de um imenso
"WOW!".

No fim, como um todo, eu indico esse álbum de estréia da Spinnerette e acrescento que ele realmente se enquadra na definição da banda: "Há doçura, há ameaça".

Portanto, se você gosta do trabalho que Brody Dalle fez com Distillers (e/ou com Sourpuss, sua primeira banda formada na Austrália), porém torceu o nariz para a Spinnerette, dê mais uma chance para ela. Compreenda-a e ouça-a com carinho. Melhora a cada audição e se torna viciante!

***

Outro CD que nos enche de expectativas, mas só melhora a cada vez que é posto para tocar, é o primeiro álbum do Them Crooked Vultures, gravado também no estúdio Pink Duck e lançado em novembro nos EUA, Europa e em dezembro no Brasil.

Até Brody Dalle dar pistas sobre esta união de John Paul Jones e Dave Grohl com Josh Homme, quase nada ou puramente nada se sabia sobre esse projeto envolvendo os três.

Dave Grohl foi o responsável pela formação da banda. Durante uma conversa com Josh Homme, ele havia contado sobre esse plano de criar uma banda com os dois mais John Paul Jones. Josh não tinha levado isso muito a serio, por mais que tivesse achado a idéia brilhante.
Então, durante a festa do aniversário de 40 anos (janeiro de 2009) de Dave, ele apresentou John ao Josh e vice versa e depois de uma conversa, voilá, a banda estava oficialmente criada.

Não vou negar que eu esperava um CD "mais além do que ouvi", porém, o conteúdo continua sendo bom e a sensação de estar ouvindo algo que merecia ter sido apresentado há tempos, persiste.

O que são aqueles riffs de baixo e guitarra? Aquelas levadas de bateria? O que falar das letras? E dos arranjos?

Sem deixar de mencionar que além do trio Dave Grohl, John Paul Jones e Josh Homme, o registro também conta com a participação de Alain Johannes (que pode até ser considerado um membro da banda também). Ele gravou as faixas "Dead end friends", "Reptiles", "Interlude with Ludes", também fez alguns backing vocals e participa das turnês.

Por essas razões que o primeiro álbum do Them Croocked Vultures merece ser ouvido com todo o respeito e sendo assim, não vou me alongar muito em comentários sobre ele, até porque esse registro os dispensa.


Them Croocked Vultures

"No One Loves Me & Neither Do I", que primeiramente foi lançada como um teaser, dispensa longos comentários. É simples, direta, porém na metade da canção, eles adicionaram um dos riffs mais geniais que já ouvi e assim vai seguindo até a música terminar.

"Mind Eraser, No Chaser" é uma daquelas bem Foo Fighters. Inclusive, Dave Grohl tem uma notável participação nos vocais do refrão.

"Dead End Friends" me lembrou demais alguns trabalhos feitos pelo John Reis no Rocket From The Crypt. E garanto que se você ouvi-la, pensará a mesma coisa que eu.

"Elephants", pode-se dizer que é a mais ovacionada pelos fãs de Them Croocked Vultures. Talvez seja pelo fato de ela mostrar realmente o que o trio é capaz de fazer.

"Scumbag Blues" é uma das minhas favoritas. É bem rock’n’roll old school. Já "Interlude With Ludes", me lembrou algumas coisas feitas pelo Josh Homme em um dos seus projetos, o Desert Sessions. É algo bem "viagem" mesmo.

Como um todo, ao mesmo tempo em que o álbum consegue ser bem rock’n’roll; old school, ele se mostra também moderno em algumas faixas como
"Gunman".
Veja um vídeo dessa música, feito pelo Liam Lynch (que além de já ter sido citado aqui por ter trabalhado com a Spinnerette, fez a artwork e todo o design gráfico do CD de estréia do trio):




Enfim, "Them Croocked Vultures" é um álbum que não pode faltar na sua listinha "tenho que ouvir".

Abaixo, a primeira parte de outro vídeo dirigido por Liam Lynch (e produzido pelo trio), explicando melhor como a banda surgiu:




E aqui, "Elephants" ao vivo:



***

Nosfell nasceu em Saint-Ouen, França e é um dos artistas mais interessantes da atualidade.
Além de usar o seu nome próprio, no palco ele também aderiu ao nome Labyala Fela Da Jawid Fel, que significa "aquele que caminha e cura".

Nosfell (porque é muito mais fácil chamá-lo assim) também criou o seu próprio mundo imaginário, que contém toda a alegria do escapismo, chamado Klokochazia e também o seu próprio idioma, "Klokobetz", que inclusive, é cantado em seus álbuns que também contam com os idiomas inglês e francês.

Ele estudou linguagens asiáticas, mas se tornou famoso como um performer e um músico de cabaré, que anos depois, passou a tocar em importantes lugares e abrir shows de bandas como Pixies e Red Hot Chili Peppers.

Suas influências vêm do blues, folk, funk, música africana e até mesmo beatbox e scat (uma improvisação vocal com vocábulos aleatórios e sílabas sem sentido ou sem palavras, muito utilizada no jazz).

Em 2009, Nosfell lançou o seu terceiro e mais recente álbum (homônimo) de estúdio e para acompanhá-lo, o livro "Le Lac aux Velies", escrito por ele e Ludovic Debeurme, para elaborar as histórias que ele narra no palco.

Além de um EP, um álbum ao vivo, três álbuns de estúdio e um livro, Nosfell também lançou em 2006 um DVD intitulado "Oklamindalofan", que foi gravado em Bruxelas, em dezembro de 2005.

Eu destaco nesse CD – que contém treze faixas - além do poder da voz do Nosfell, dos riffs incríveis, das melodias brilhantes e dos arranjos para ninguém colocar defeito, as músicas: "Lūgina", "Sūbilūtil", "Arimlisliilem", "Sūanij...", "...Jüsila", "Bargain Healers" e "La Romance Des Cruels".

Nosfell


O álbum recebe uma intro de beatbox, que é seguida pela voz doce e angelical de Nosfell e sem que você espere, entra uma porrada para então todos os instrumentos começarem. Ao decorrer dela (
"Lūgina") – que se baseia em pop rock alternativo - é possível notar - além de beatbox – o uso de violoncelo, violino e até mesmo um quê de samba e rap, no estilo Beastie Boys.

Na faixa seguinte, "Sūbilūtil", Nosfell usa a sua voz em duas camadas: Uma mais grave e outra mais fina. Os riffs são incríveis e apesar de ser "animadinha", o final é sereno.

"Arimlisliilem" é a mais bonita do CD. Como uma introdução lindíssima feita por violoncelo, acompanhada depois por uma guitarra que utiliza um timbre suave (lembrando até mesmo uma cítara), Nosfell, em seguida, insere docemente a sua voz na música. No final ela termina em um clima de suspense.

Não é preciso entender rigidamente o que Nosfell fala em suas músicas (até porque é impossível decifrar tudo), mas qualquer um consegue notar que "Sūanij..." e "...Jüsila" estão ligadas entre si. A primeira é acústica, calma e serena. Mas assim como as reticências encontradas no título, nos leva a entender que há mais pela frente. Então, em
"...Jüsila", a música encorpora mais ritmos, insturmentos e melodicamente, passa pelo rock alternativo e até mesmo pelo punk. O arranjo feito para o final da música, é impecável e merece destaque.

"Bargain Healers" é introduzida por Nosfell e depois conta com a participação do casal Brody Dalle e Josh Homme. Inclusive, essa música me lembrou bem algumas coisas "à lá" Josh Homme: Não sei se é pela melodia, pelos solos ou pelo timbre da guitarra. Creio que por conta disso, Alain Johannes (que além de pruduzir e mixar, também toca guitarra, baixo, cig fiddle e marxophone no CD) talvez tenha sugerido essa participação na música.

Além do casal Homme, o álbum também conta com outra ilustre participação: Daniel Darc (conterrâneo de Nosfell e tão excêntrico quanto ele), aparece na faixa
"La Romance Des Cruels", que é bem folkzinha.

Se você curte algo na linha de The Mars Volta, Björk e Nine Inch Nails, não pode deixar de ouvir Nosfell. E nada melhor do que começar pelo álbum que talvez seja o trabalho mais especial feito por ele, até o presente momento.

Confira uma versão acústica de
"Lūgina", música que abre com chave de ouro esse CD do Nosfell:



E "Bargain Healers", sem Josh Homme e Brody Dalle:




Por: Angélica Albuquerque

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